2018-08-06 17:43:55

PANORAMA DA LOGÍSTICA LATINO-AMERICANA


Por primeira vez realizamos, em Buenos Aires, o tradicional Painel Latino-Americano que costumamos organizar por ocasião de cada Assembleia Anual.
Teve lugar em 19 de abril no Auditório da FADEEAC (Federação Argentina de Entidades Empresárias de Autotransporte de Carga) e contou com a presença de Álvaro Espinoza, Subsecretário de Desenvolvimento do Espaço de Livre Comércio da ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), referentes do setor e Daniel Indart, Presidente de FADEEAC, além de meios de comunicação.
O painel esteve conformado por representantes da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai.
A necessidade imperiosa de baixar custos, a atividade pouco regulamentada na maioria dos países e as terceirizações para evitar conflitos sindicais foram algumas das conclusões do Painel Latino-Americano, no qual os representantes das diferentes associações logísticas da América Latina expuseram sobre a situação do setor.
A situação na Argentina
Hernán Sánchez, titular da ARLOG e Presidente alterno da ALALOG expressou que “a falência quanto à infraestrutura logística acontece porque 94% do transporte é rodoviário e as ferrovias são obsoletas. Temos que repensar a matriz portuária na Argentina. 95% do comércio interno e 80% do comércio exterior se movimenta por rodovias”. Embora tenha afirmado que a atividade logística no país “está baseada em operadores privados com padrões do primeiro mundo, não há uma política de Estado relativa ao setor”. A esse respeito, acrescentou: “Tivemos conversações com o governo para avançar em diferentes temas referidos ao setor. Mas, até o presente momento, só houve conversações. Devemos trabalhar para que a logística ocupe o lugar que merece”.
Por sua vez, Jorge López, titular da CEDOL e Presidente da ALALOG acrescentou que o Estado está fomentando os contratos de infraestrutura logística público-privada. Mas apresentou um problema: “Aceitamos com total normalidade que os veículos demorem dois dias para cruzar de um país para o outro. Nesse sentido, é chave tomar medidas em torno ao uso de papéis. Hoje, tudo é digital. Mas temos um problema sério a esse respeito. É uma oportunidade para facilitar o comércio intra-regional”.
Infraestrutura logística
Juan Carlos Rodríguez, Secretário da CALOG (Câmara Uruguaia de Logística) e da ALALOG, comentou que, nos últimos 15 anos, a logística teve uma evolução importante em seu país. Assinalou que o Uruguai conta com um Instituto Nacional de Logística, que conta com total apoio dos partidos políticos, e no qual o setor privado se reúne quinzenalmente para acordar sobre diferentes temas referidos ao setor.
Posteriormente, Luis Miguel Maldonado, Presidente da APPROLOG (Associação Peruana de Profissionais em Logística), manifestou que nos últimos anos seu país avançou na privatização de portos. Mas reconheceu que há muito por trabalhar a esse respeito. Quanto às rodovias, acrescentou que há mais de 150 mil quilômetros, mas apenas 12 por cento está asfaltado. “Cada mudança de governo deixa de lado um plano, toma outro ou retoma um que se fez há dez anos e, no final, o que sentimos é que nos adaptamos muito pouco”, assinalou.
Posteriormente, Alessandro Molfesi, Presidente da ATOLPAR (Associação de Transitários do Paraguai e Operadores Logísticos), manifestou que seu país assinou recentemente um convênio pela rota bioceânica. Quanto aos desafios que hoje enfrenta o setor, assinalou que o mais grave é a informalidade: “Estamos lutando com os entes do Estado para conseguir a formalização”, destacou.
Logo após foi o turno de José Antonio García, Presidente da AOLM (Associação de Operadores Logísticos do México), que comentou que, “apesar de contar com 117 portos marítimos e 27.000 quilômetros de vias ferroviárias, temos muito para melhorar”. Acrescentar que o custo da logística em seu país representa 14% do PBI. Afirmou que as rodovias e os portos são investimentos privados. E que a única regulamentação existente é que as companhias estrangeiras não podem operar o transporte terrestre, porque é considerado estratégico.
Angie Intriago, representante da ASOLOG (Associação de Logística do Equador), disse que seu país conta com uma infraestrutura férrea privada somente destinada ao turismo. Acrescentou que o Equador tem um plano estratégico de mobilidade que se estende até 2038 e cujo objetivo é a criação de portos secos e plataformas logísticas. Enquanto, informou que a maioria dos investimentos são privados.
Juan Carlos Rodríguez Muñoz, Presidente da COLFECAR (Federação Colombiana de Transportadores de Carga por Rodovia) afirmou: “Estamos incrementando a infraestrutura de tal maneira que possamos diminuir os custos logísticos”. Também que “na Colômbia há um plano de logística do qual participam os entes públicos e privados”. Finalmente, manifestou que tanto o combustível quanto os pedágios atingem 46% dos custos operacionais.
Neil Taylor Montgomery, Vice-Presidente da ALOG (Associação Logística do Chile), precisou que em seu país o desenvolvimento político portuário se realizou mediante concessões, legando 100 por cento no caso das rodovias. “A infraestrutura é muito boa mas muito cara”, destacou. Referiu-se a um estudo do BID que mede a eficiência logística e situa o Chile no lugar 46 do ranking. Em consequência, explicou que buscam melhorar a posição quanto aos custos, que se encontra entre 50 e 100 por cento por cima dos países da OCDE.
César Meireles, Diretor da ABOL (Associação Brasileira de Operadores Logísticos), manifestou: “Para um país como o Brasil com 8.200 quilômetros quadrados de extensão e 27 estados, a logística é fundamental”. No entanto, advertiu que “o problema está em que o governo não cumpre o plano do anterior e, portanto, não há solução de continuidade”. A esse respeito, assegurou que “a logística, necessariamente, é um programa de longo prazo. E necessita, imperativamente, investimentos públicos e privados”. Não obstante, especificou que são baixos os investimentos em infraestrutura logística, próximos a 0,6% do PIB.
Wilfredo Rojo, representante da CADEX (Câmara de Exportadores, Logística e Promoção de Investimentos de Santa Cruz), assinalou que o custo da logística na Bolívia “é um dos mais altos da região”. Embora tenha destacado que as iniciativas em infraestrutura estão dadas pelo governo, indicou que “não há um plano estratégico de desenvolvimento logístico”.
Terceirização
Os Presidentes de ARLOG e CEDOL coincidiram em que o transporte é uma atividade 100% terceirizada na Argentina. E um dos motivos principais é evitar conflitos gremiais. Meireles comentou que no Brasil se terceiriza 98% do transporte, armazém e gestão de estoque. No Peru, a terceirização chega a 90%. E no México, 72% do transporte de cargas está terceirizado.
Pelo contrário, no Equador não existe o reconhecimento ao operador logístico. No Paraguai também não há regulamentação para os operadores. E na Bolívia nem sequer há operadores logísticos e as empresas desenvolvem sua logística com seus próprios recursos internos.